quinta-feira, 5 de agosto de 2010

As falhas na nova rodoviária







04/08/2010 - Correio Braziliense


Sinalização precária dificulta ao acesso aos usuários, que chegam a estacionar no acostamento da Epia para desembarcar passageiros
Mariana Sacramento
É preciso reconhecer que a Rodoviária Interestadual de Brasília esbanja beleza e modernidade, especialmente quando comparada ao antigo terminal, que operou improvisado durante anos na Rodoferroviária. O novo espaço tem cara e preço de aeroporto. Mas ainda está longe de atender as necessidades do público-alvo. Um café pequeno custa em média R$ 2,25. Valor salgado para o viajante acostumado a pagar R$ 0,50 pela bebida. O pão de queijo pequeno custa de R$1,80 a R$2,50. Para tomar um banho é preciso desembolsar R$ 6 por 8 minutos de ducha. Entretanto, os maiores problemas estão do lado de fora. Estacionar próximo ao terminal também vai custar caro — R$ 3 a hora. As vagas públicas são poucas e ficam longe da entrada. A falta de sinalização ao acesso à rodoviária deixa muita gente perdida. Motoristas mais impacientes estacionam no acostamento da Estrada Parque de Indústria e Abastecimento (Epia) para desembarcar passageiros, colocando a vida de pedestres em risco e atrapalhando o trânsito da via.
De 25 de julho, data da inauguração da rodoviária, a 1º de agosto, a Companhia de Polícia Militar Rodoviária Militar (CPRv) autuou 105 motoristas que pararam o veículo no local. Uma média de 13 infrações por dia. O número bateu o total de notificações registradas no mês de julho. Período em que motoristas foram flagrados pela fiscalização cometendo a infração, que rende multa de R$ 53, 20 e três pontos na carteira. “O condutor que estaciona no acostamento da rodovia só tem a perder. Ele coloca a segurança dele em risco e compromete o fluxo da via. O passageiro também corre perigo ao desembarcar e atravessar a pista marginal com malas pesadas”, explica o tenente-coronel Alessandro Venturim da CPRv.
Em poucos minutos de observação na manhã de ontem, a equipe do Correio constatou a imprudência se repetir várias vezes. Por volta das 12h, um grupo de quatro pessoas, entre elas uma criança, desembarcou de um Fiat Elba branco. Carregados de malas, os passageiros atravessam com dificuldade a marginal.

Irregularidades
Os motoristas entrevistados pela reportagem justificam a irregularidade colocando a culpa na sinalização precária da Rodoviária Interestadual de Brasília e na dificuldade de acessá-la (veja arte). “Não há placas indicando o caminho. Quem não conhece essa área fica perdido. O acesso ao terminal só é possível por meio da marginal. Quem transita na Epia precisa fazer um retorno danado”, destaca o empresário Wesley Leite Bido, 27 anos, morador de Taguatinga, que ontem deixou a irmã e os dois sobrinhos no novo terminal.

As autoridades tentam rebater as reclamações dos usuários. A Secretaria de
 Transportes informa que as indicações de acesso à rodoviária são de responsabilidade do Departamento de Estradas de Rodagem do DF (DER-DF). Já o diretor-geral do órgão, Luiz Carlos Tenezini, respondeu que o DER “já fez a sinalização que entende ser suficiente”. De acordo com ele, foram instaladas 24 placas. Tenezini ressalta que o consórcio Novo Terminal, responsável pela construção e administração do espaço, é que precisa repassar as demandas de acessibilidade ao departamento . Já a assessoria de imprensa do consórcio disse que a responsabilidade é “dos órgãos competentes”.
Tenezini informou ainda que o retorno próximo ao Parkshopping, para quem segue no sentido Núcleo Bandeirante, será fechado para não confundir mais os motoristas que passam em frente ao terminal e identificam o retorno como um acesso à rodoviária. O condutor precisa percorrer cerca de quatro quilômetros, contornar o viaduto do Guará, ingressar na via marginal da Epia para, só então, entrar no terminal. O estacionamento do local também gera protestos. São 160 vagas pagas e apenas 65 públicas, que ficam distantes da entrada principal. A cobrança do estacionamento privativo ainda não começou.
Passageiros reclamam dos preços salgados
É preciso ter no mínimo uma nota de R$ 5 no bolso para fazer um rápido lanche na Rodoviária Interestadual de Brasília. Um café pequeno e um pão de queijo sai por R$ 4,90. Muitas vezes quem chega com fome ao local desiste da refeição ao ser informado dos preços. Na área de alimentação, os passageiros têm à disposição marcas conhecidas no mercado, mas desconhecidas para a maioria deles. São apenas quatro estabelecimentos, que vendem sanduíches, salgados e doces. Um vendedor, que não quis se identificar, comenta que chega a atender cerca de 100 pessoas que acabam abrindo mão do lanche ao serem informadas dos valores dos produtos.
Ainda faltam opções de baixo custo. Para fazer uma refeição mais completa é preciso gastar ainda mais. Os dos sanduíches mais simples têm preço variando de R$ 3 a R$ 6. Isso sem contar com a bebida. A garrafa de água mineral custa R$ 2. De acordo com o consórcio Novo Terminal — formado pelas empresas Artec, JCGontijo e Socicam — que administra a rodoviária, as marcas foram escolhidas “justamente para que as pessoas pudessem ter a garantia de consumir produtos de qualidade”.

Café caro
Para a passageira Luzinete Caetano da Silva, 47 anos, o espaço foi planejado para pessoas das classes média e alta. “Que é bonita é, não tenho dúvida. É uma ótima opção para quem faz turismo. Mas para quem não tem condições, não atende. É tudo muito caro. Não tenho dinheiro para pagar R$ 2,40 num café”, reclama. Fora isso, ela afirma gasta mais para chegar ao terminal. “Da Rodoviária do Plano Piloto até à Rodoferroviária (antigo terminal) a passagem era R$ 1,50, para cá custa R$ 2”, compara a moradora de Padre Bernardo, município goiano. Luzinete vem a Brasília uma vez por semana para fazer um tratamento de úlcera.
Quem trabalha no local também reclama da falta de opções de alimentação. É o caso da vendedora Ana Lúcia dos Santos, 23 anos, funcionária da empresa Planalto Transportes, que vende passagens para cidades da Bahia e do Rio Grande Sul . “Aqui não tem o que comer.” Além disso, Ana conta que os tributos pagos pelos comerciantes ficaram mais altos com a transferência do local. “Antes (na Rodoferroviária), o aluguel era R$ 142, aqui sai por R$ 1.804, fora as taxas de ocupação e de rateio”, revela. Os taxistas também apontam falhas. “Não contamos com um local de apoio para tomar banho, sentar ou descansar. Antes, tínhamos mais vagas à disposição, aqui são só são 32”, relata o taxista Divino Francisco Morais, 47 anos. Para tomar um banho na rodoviária é preciso pagar R$ 6 por uma ficha que dá direito a oito minutos de chuveiro ligado.
Mídia: Correio Braziliense
Data: 04/08/2010

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Justiça determina licitação da linha entre Brasília e Goiânia

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Gabriela Lima - Correio Braziliense
Publicação: 04/08/2010 19:49 Atualização: 04/08/2010 21:24
Uma decisão judicial colocará fim ao monopólio que já dura 50 anos no transporte rodoviário de passageiros entre Goiânia e Brasília. A Justiça Federal em Goiás concedeu liminar contra as viações Araguarina e Goiânia, ambas do grupo Odilon Santos, e determinou um prazo de 90 dias à Agência Nacional de Transportes (ANTT) para realizar a concorrência da linha pela mesmo conglomerado familiar.

O juiz substituto federal, Fernando Cleber de Araújo Gomes, acatou o pedido do Ministério Público Federal em Goiás (MPF-GO) que apontou duas irregularidades: o monopólio e o fato das companhias operarem há muitos anos sem licitação. Para a autora da ação, a procuradora da República Mariane Guimarães, a falta de concorrência prejudica o consumidor. "O passageiro não tinha o direito de escolher, então o grupo ditava as regras, como o preço, o itinerário e a qualidade", diz a procuradora.

Guimarães explica que a licitação abre vaga para duas empresas. Tanto a viação Araguarina quanto a Goiânia podem participar do processo, mas se uma delas ganhar, a outra fica automaticamente impedida de operar o trecho. "Uma das vagas terá que passar para um grupo concorrente", diz.

Para a autora da ação, a medida vai melhorar a qualidade dos serviços prestados. Segundo ela, só em 2007 a ANTT emitiu mais de 40 autos de infração contra as empresas pela má gestão do serviço prestado.

Ainda de acordo com a liminar, até a realização do processo licitatório, as duas companhias devem fazer o transporte de passageiros normalmente no trecho. A reportagem do Correiobraziliense.com.br tentou contato com a ANTT e com o Grupo Odilon Santos, mas não obteve resposta.